terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

CANÇÃO XCVII

 

O Senhor está em mim,
o Senhor está em ti
– como a vida está em toda a semente.

Oh, devoto: afasta o falso orgulho,
procura-O em ti.

Quando me sento no centro do mundo
milhões de sóis inflamam-se de luz,
um mar de azul espalha-se no céu,
a febre da vida acalma
e todas as manchas são limpas.

Escuta os sinos e os tambores
que soam sem que ninguém os toque!
Deleita-te no amor!
As chuvas tombam sem que água caia,
os rios são torrentes de luz.

Um só Amor permeia o mundo inteiro
– poucos há que o sabem verdadeiramente.
Cegos são os que esperam compreender
pela luz da razão, a mesma razão
que é a causa da separação.
A Casa da Razão está muito distante!

Quão abençoado é Kabir,
que no seio desta grande alegria
canta dentro do seu próprio receptáculo.

É a música do encontro de almas,
do esquecimento de todas as penas;
a música que transcende
tudo o que vem, tudo o que parte.





Kabir (1440 - 1518)








(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Rabindranath Tagore em "Songs of Kabir", 1915.)













(Nome e autor desconhecidos.)