sexta-feira, 15 de abril de 2022

A CHAVE DA FELICIDADE


Deus sentia-se muito só. Para superar a sua solidão, tinha criado uns seres que lhe faziam companhia. Mas esses seres sobrenaturais encontraram a chave da felicidade e fundiram-se com o Divino, que voltou a ficar só e sumido no seu triste sentimento de solidão. 

Reflectiu demoradamente. Era Deus, mas não queria estar sozinho. Pensou que tinha chegado o momento de criar o ser humano, mas intuiu que este poderia encontrar a chave da felicidade, que descobriria o caminho até Ele e com Ele se fundiria. Não, não queria ficar só outra vez. 

Perdurou no seu pensamento e perguntou-se onde poderia esconder a chave da felicidade para que o Homem não a  pudesse encontrar. Não era fácil. Primeiro pensou ocultá-la no fundo do oceano, depois numa caverna nos Himalaias, depois noutra galáxia. Mas estes lugares não o satisfaziam. 

Passou a noite em claro, perguntando-se onde seria o lugar mais seguro para esconder a chave da felicidade. Sabia que o ser humano acabaria por descer ao oceano mais abismal e que a chave não estaria segura aí. Também não estaria segura numa gruta dos Himalaias porque, mais cedo ou mais tarde, o Homem escalaria até aos cumes mais elevados e encontrá-la-ia. Nem sequer estaria segura noutra galáxia, já que o Homem chegaria a explorar os vastos universos. 

Ao amanhecer, continuava a perguntar-se onde ocultá-la. E quando o sol começava a desvanecer a bruma matutina com os seus raios, de súbito ocorreu-lhe um lugar no qual o ser humano nunca procuraria a chave da felicidade: dentro de si mesmo. Criou então o Homem e, no seu interior, colocou a preciosa chave. 





Anónimo.











(Texto recolhido por Ramiro Calle e antologiado em "Os Melhores Contos Espirituais do Oriente" - A Esfera dos Livros, 4ª ed., setembro de 2010. Tradução de Margarida Cardoso de Meneses.)










"The Light Within",
de Annette Trent.