Mesmo que nada tenhas,
É difícil descobrir o contentamento
Que advém da renúncia.
Eu nada aceito,
Eu nada rejeito
E sou feliz.
O corpo estremece,
A língua hesita,
A mente está cansada.
Abandonando-os,
Persigo alegremente o meu propósito.
Sabendo que nada faço,
Faz-se o que tiver de ser feito,
E sou feliz.
Apegado ao seu corpo,
Aquele que busca insiste em esforçar-se
Ou sentar-se muito quieto.
Mas eu não mais suponho
Que seja meu o corpo,
Ou que não o seja.
E sou feliz.
Dormindo, sentado, caminhando
Nada de bom ou mau me acontece.
Durmo, sento-me, caminho
E sou feliz.
Em esforço ou em repouso,
Nada é ganho ou perdido.
Abandonei a alegria de ganhar
E a tristeza de perder.
E sou feliz.
Os prazeres vêm e vão.
Quantas vezes observei a sua inconstância!
Abandonei o bom e o mau,
E agora sou feliz.
Ashtavakra (? - ?)
(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Thomas Byrom in "The Heart Of Awareness - A Translation of the Ashtavakra Gita", Shambhala Dragon Editions, 2001.)