sábado, 30 de maio de 2015

DEPOIS DE ALMOÇO


Depois de almoço – uma breve sesta.
Ao acordar – duas chávenas de chá.
Erguendo o semblante, contemplo a luz solar
de novo inclinada para sudoeste.
Aqueles que são felizes lamentam a efemeridade do dia;
aqueles que são tristes enfadam-se pela preguiça do ano.
Mas aqueles cujos corações se despojam de alegria ou [tristeza,
vivem simplesmente – sem noção de curto ou longo.




Bai Juyi (772 – 846) (*)


(Tradução do original por Arthur Waley. Tradução da versão inglesa por Pedro Belo Clara).





(*) Bai Juyi nasceu em Xinzheng, província de Henan. Além de governador de duas das cidades mais importantes da China clássica, Hangzhou e Suzhou, tornou-se um dos mais importantes poetas que aquele país viu nascer. As suas criações receberam nítidas influências do pensamento taoísta e budista. Contam os relatos da época que cultivava a particularidade de rasgar todos os poemas que junto dos leitores não obtinham a devida compreensão. Procurou ressuscitar o uso de uma poesia directa e de simples processos, inspirando-se fortemente em canções populares. Amiúde em seus poemas imprimia uma forte crítica social, tendo sido ao longo da vida um principal defensor do povo e do seu bem-estar, que à época vivia em condições incrivelmente precárias, nomeadamente graças ao alto volume de impostos pagos ao Imperador - os cereais para a sua subsistência não raramente apodreciam nos celeiros imperiais, quando poderiam ter saciado a fome de inúmeras famílias camponesas.








Bai Juyi



quarta-feira, 27 de maio de 2015

NOITE DE TRISTEZA



Uma bela mulher descerra
a delicada persiana de bambu.
Senta-se com expressão profunda;
suas sobrancelhas tremelicam como traças.
Quem lhe terá posto dorido o coração?
Em seu rosto, visível apenas
húmidos vestígios de lágrimas.




Li Bai (701 - 762).

(Tradução de Shigeyoshi Obata, em "The Works of Li Po" (1935). Tradução da versão inglesa por Pedro Belo Clara).










segunda-feira, 25 de maio de 2015

O ESPAÇO DE MEDITAÇÃO POR DETRÁS DO TEMPLO POSHAN


De madrugada entrei num templo antigo.
O sol nascente incendiava as altas árvores.
Um trilho guiou-me a um lugar isolado,
a um espaço de meditação num bosque florescido,
onde a luz da montanha deleitava os corações dos pássaros
e lagoas como espelhos aquietavam a mente dos homens.
Os dez mil ruídos foram silenciados.
Tudo o que escutava era um sino.


Chang Jian (727) (*)


(Tradução do original por Bill Porter em "Poems of the Masters, China's Classic Anthology of Tang and Sung Dynasty verse". Tradução da versão inglesa por Pedro Belo Clara).



(*) Também designado por Ch'ang Chien nas primeiras traduções de que a sua poesia foi alvo, encontra-se presente na famosa antologia "Three hundred Tang Poems" - chegada ao Ocidente em 1929. Figura do qual pouco se sabe ou conhece, destaca-se pela poesia de teor meditativo e espiritual.











domingo, 24 de maio de 2015

PENSAMENTO NOCTURNO



O luar, brilhante,
aparece em frente da cama
como geada pelo chão. 


Levo os olhos à lua formosa,
e baixando o rosto penso 
na minha terra natal. 





Li Bai (701 - 762) (*) 








(Versão inglesa de Qiu Xiaolong. Tradução a partir da mesma por Pedro Belo Clara.)










(*) Li Bai é considerado o maior poeta romântico da dinastia Tang (618 - 907). A alcunha de "Poeta Imortal" ainda hoje lhe é outorgada. Cerca de mil poemas deste destacado vulto da literatura chinesa permaneceram incólumes ao avanço dos tempos. Chegaram ao ocidente as primeiras traduções em 1862, por mão de Marie-Jean Léon. Ezra Pound considerou a obra de Li Bai «o maior exemplo da visualidade» na poesia chinesa, referindo-se à capacidade de cristalizar em palavras a imagem que diante do olhar do poeta se anuncia.









(Li Bai)