quarta-feira, 22 de maio de 2019

Quatro breves poemas de Kahlil Gibran



I. Cantando No Silêncio

A vida canta nos nossos silêncios
e sonha no nosso sonho.
Mesmo quando nos sentimos abatidos e derrotados,
a vida senta-se num trono nas alturas.
E quando choramos,
a vida sorri ao dia
e é livre mesmo que
arrastemos as nossas correntes.



II. Entre

Para sempre caminho nestas praias,
entre a areia e a espuma do mar.
A maré alta apagará as minhas pegadas
e o vento levará a espuma.
Mas o mar e a praia
aqui ficarão para sempre.


III. Olhos De Coruja

A coruja, cujos olhos adaptados à noite
são cegos para o dia,
é incapaz de desvendar o mistério da luz.
Se queres realmente ver o espírito da morte,
abre o teu coração para o corpo da vida.
Pois a vida e a morte são uma só coisa,
tal como o rio e o mar são um só.


IV. As Árvores São Poemas

As árvores são poemas
que a terra escreve sob o céu.
Nós as derrubamos
e com elas fazemos papel,
onde registamos todo o nosso vazio.






Kahlil Gibran (1883 - 1931)











("Kahlil Gibran: O Livro da Vida", Albatroz, 2018 - e
dição de Neil Douglas-Klotz; à excepção do quarto poema, uma versão de Pedro Belo Clara a partir do original.)











(Kahlil Gibran)