I. O pescador
A terra bebeu a neve,
as ameixeiras estão de novo em flor;
as folhas novas do salgueiro doiradas ardem,
as águas do rio são prata.
Salpicadas de oiro, as borboletas
com suas bocas de veludo tocam o coração das flores.
Num barco parado,
o pescador puxa a sua rede prateada,
agitando as águas quietas.
Pensa numa rapariga, em casa,
como andorinha no aconchego do ninho;
pensa na rapariga que, em casa,
como a andorinha espera o seu companheiro.
II. Diz a rapariga de Ba¹
As águas do rio Ba são velozes como uma seta;
o barco no rio desliza
como se asas tivesse.
Em dez dias percorrerá três mil Li.²
E tu partes, amor.
Ah, quantos anos até ao teu regresso?
III. A mulher de Yue³ (IVº poema duma série de V)
Ela, uma rapariga de Dongyang⁴, está descalça na margem;
ele, um barqueiro de Kuaiji⁵, permanece no seu barco.
A lua brilha ainda no céu.
Olham um para o outro - de coração partido.
(Versões de Pedro Belo Clara a partir de:
I - tradução de R. T. Smith, revista Shenandoah (blogue), Fev. 2012;
II e III - tradução de Shigeyoshi Obata, em "The Works of Li Po", Tóquio, 1935.)
(1) Ba é a região mais oriental da província de Sichuan, atravessada pelas velozes águas do rio Yangtze, o maior de toda a Ásia.
(2) Antiga medida chinesa de distâncias. O valor não é muito exacto e tem variado ao longo do tempo, mas actualmente equivale a quinhentos metros.
(3) Um estado da China antiga, correspondente à área onde hoje se encontram três províncias daquele país: Zhejiang, Xangai e Jiangsu. Quando Li Bai era vivo, tal estado era já considerado um vassalo da China imperial.
(4) Cidade que nos dias de hoje pertence à província de Zhejiang, na zona oriental costeira da China.
(5) Localidade da mesma província, actualmente designada de Shaoxing.
"Chinese fisherman with commarant"
de Lynn B. Blair