quarta-feira, 27 de março de 2019

Compreende os outros



Compreende os outros,
e serás sábio.
Compreende-te a ti mesmo,
e ficarás iluminado.

Vencer os outros exige força física.
A conquista de ti mesmo dá-te poder superior.

Viver com o que se tem,
é ser-se rico.
Persistir no caminhar
leva longe os teus passos.

Não percas o teu lugar,
e terás uma vida longa.

Assim, quando morreres,
não acabas.








Lao Tsé (séc. VI a.C. - ?)









(Tradução de Joaquim Palma, in "Tao Te Ching - O Livro do Caminho e da Sabedoria", Editorial Presença, 1º edição, Julho de 2010.)























sexta-feira, 15 de março de 2019

QUARENTA E CINCO ANOS


Idade: quarenta e cinco anos.
O seu cabelo, dos lados, tornou-se grisalho;
esguio e esbelto, é a poesia o seu maior falhanço;
brusco, caloroso, algo louco quando bebe.
Está agora mais velho, e ao destino tudo entrega;
a qualquer lugar confortável chama casa.
Quem sabe? No monte Lu¹, na próxima primavera,
talvez construa uma cabana com telhado de palha.




Bai Juyi (772 - 846)







(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa elaborada por Burton Watson.)








(1) O Monte Lu é por excelência o centro da vida espiritual chinesa. Durante séculos que assim tem sido. Palco de diversos templos, tanto taoístas como budistas, também se adorna de marcos do confucionismo. Lugar de retiro e de ensinamento da eleição de muitos mestres e mentores, além de ocasionais eremitas que buscavam paz interior, uma ligação profunda com o que os rodeava ou simplesmente uma existência frugal, longe das azafamas citadinas e das intrigas da corte. Devido à sua estonteante beleza natural, foi e ainda é um lugar que inspira diversos artistas. Situado na província chinesa de Jiangxi, em 1996 foi declarado património mundial da UNESCO.

Pelo que se lê no poema, que é um curioso auto-retrato do autor aos quarenta e cinco anos de idade, feito em pleno exílio (ano de 817), o poeta equacionava uma vida de eremita para o restante da sua vida, algo que pelo menos no imediato não se sucederia, pois em 819 foi convidado a reentrar no serviço administrativo do império. Contudo, os anos finais da sua existência foram realmente passados num templo, em Xianshang. É nesse local que ainda hoje se ergue um monumento fúnebre em sua memória. 










(Vista circundante a partir do Monte Lu)