quarta-feira, 9 de março de 2022

Oito poemas (Tanka) de Wakayama Bokusui


I.

Vamos sem demora; anseio por montanhas
que os nossos olhos não tocaram ainda.
Será que não se oculta em teu peito
esta paixão que aguda me corrói?


II.

As cerejeiras florescem sob a melancolia
dos pálidos céus de começo de verão;
mas quão terríveis parecem ser,
desde que a morte cerrou os olhos do meu amigo!
¹


III.

Encontrarei, pensara, alguma paz de espírito
respirando os ares do oceano.
Então, desejoso de mar, aqui cheguei
– mas o que busco está ainda por descobrir.


IV.

Corram, lágrimas, corram à vontade:
o mastro é um biombo
- claras nuvens brilham, no alto,
e as ondas do mar cintilam.


V.

O bosque está sereno, nenhum pássaro
nesta solidão profunda se faz ouvir,
enquanto debaixo duma árvore me quedo,
escutando o solitário suspiro do outono.


VI.

Sentindo-me desamparado,
penso que cada poema, cada canção minha
é um triste rastro deixado por meus pés
ao longo da praia da vida.


VII.

Oh, quão desesperante e terrível é
viver a minha vida sobre a terra!
Caminho tacteando na escuridão
que nenhum raio de luz toca.


VIII.

Estou cansado da medicina,
apenas espero e anseio por sake².
Esquecendo-me de tudo,
numa taça cheia desejo morrer.




Wakayama Bokusui (1885 - 1928)










(Versões de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de H. H. Honda in "The Poetry Of Wakayama Bokusui", The Hokuseido Press, Japão - edição fac-símile elaborada pela Hassell Street Press.)













(1) O amigo a que Bokusui se refere é Ishikawa Takuboku, também ele um poeta, falecido em 1912, vítima de tuberculose - quando contava apenas 32 anos de idade. Tal como Bokusui, compunha poemas no estilo "Tanka", um género que então vivia o tempo duma reformulação significativa. Tornar-se-iam ambos, com o passar dos anos, membros de pleno direito do restrito panteão dos intérpretes mais importantes do género. 



(2) Bebida alcoólica japonesa feita a partir da fermentação do arroz, após passar por um processo de remoção de óleos e proteínas naturais. Tradicionalmente, bebe-se à temperatura de 35º C, embora não de modo exclusivo, já que consoante as temperaturas em que for consumido o sake adquire diferentes sabores.
Acrescente-se que na versão inglesa do poema optou-se por usar a palavra "wine", isto é, "vinho", ao invés de manter a original. É certo que o sake é uma espécie de vinho de arroz, mas, para o efeito, e também por já não ser uma referência tão estranha entre nós, decidimo-nos pelo termo original.











(Wakayama Bokusui)