Vamos sem demora; anseio por montanhas
que os nossos olhos não tocaram ainda.
Será que não se oculta em teu peito
esta paixão que aguda me corrói?
II.
Será que não se oculta em teu peito
esta paixão que aguda me corrói?
II.
As cerejeiras florescem sob a melancolia
dos pálidos céus de começo de verão;
mas quão terríveis parecem ser,
desde que a morte cerrou os olhos do meu amigo!¹
III.
mas quão terríveis parecem ser,
desde que a morte cerrou os olhos do meu amigo!¹
III.
Encontrarei, pensara, alguma paz de espírito
respirando os ares do oceano.
Então, desejoso de mar, aqui cheguei
– mas o que busco está ainda por descobrir.
IV.
Corram, lágrimas, corram à vontade:
o mastro é um biombo
- claras nuvens brilham, no alto,
e as ondas do mar cintilam.
V.
O bosque está sereno, nenhum pássaro
nesta solidão profunda se faz ouvir,
enquanto debaixo duma árvore me quedo,
escutando o solitário suspiro do outono.
VI.
Sentindo-me desamparado,
penso que cada poema, cada canção minha
é um triste rastro deixado por meus pés
ao longo da praia da vida.
VII.
Oh, quão desesperante e terrível é
viver a minha vida sobre a terra!
Caminho tacteando na escuridão
que nenhum raio de luz toca.
VIII.
Estou cansado da medicina,
apenas espero e anseio por sake².
Esquecendo-me de tudo,
numa taça cheia desejo morrer.
(Versões de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de H. H. Honda in "The Poetry Of Wakayama Bokusui", The Hokuseido Press, Japão - edição fac-símile elaborada pela Hassell Street Press.)
(1) O amigo a que Bokusui se refere é Ishikawa Takuboku, também ele um poeta, falecido em 1912, vítima de tuberculose - quando contava apenas 32 anos de idade. Tal como Bokusui, compunha poemas no estilo "Tanka", um género que então vivia o tempo duma reformulação significativa. Tornar-se-iam ambos, com o passar dos anos, membros de pleno direito do restrito panteão dos intérpretes mais importantes do género.
(2) Bebida alcoólica japonesa feita a partir da fermentação do arroz, após passar por um processo de remoção de óleos e proteínas naturais. Tradicionalmente, bebe-se à temperatura de 35º C, embora não de modo exclusivo, já que consoante as temperaturas em que for consumido o sake adquire diferentes sabores.
Acrescente-se que na versão inglesa do poema optou-se por usar a palavra "wine", isto é, "vinho", ao invés de manter a original. É certo que o sake é uma espécie de vinho de arroz, mas, para o efeito, e também por já não ser uma referência tão estranha entre nós, decidimo-nos pelo termo original.
(Wakayama Bokusui)