sábado, 14 de março de 2020

NASRUDIN E A PESTE


Ia a Peste a caminho de Bagdade quando se cruzou com Nasrudin, que lhe perguntou:

- Aonde vais?

E a Peste respondeu:

- Vou a Bagdade matar dez mil pessoas.

Tempos depois, a Peste voltou a encontrar-se com Nasrudin. Bastante indignado, o mulá disse-lhe:

- Mentiste-me! Disseste que matarias dez mil e, afinal, foram cem mil os que ceifaste!

Ao que Peste retorquiu:

- Eu não te menti; apenas matei dez mil. Os restantes morreram de medo. 





(Anónimo - 
Conto sufi da tradição oral.)











(Versão de Pedro Belo Clara a partir da versão castelhana do conto tradicional.)















(Nasrudin montado no seu burro - 
Autor desconhecido.)


segunda-feira, 2 de março de 2020

O PRIMEIRO BEIJO


O céu ficou silencioso e de olhos baixos,
Os pássaros calaram todos os seus cantos;
O vento emudeceu; a música das águas acabou
De repente; o murmúrio da floresta
Morreu lentamente no coração da floresta.
Na margem deserta do rio tranquilo,
Nas sombras do anoitecer desceu silenciosamente
O horizonte sobre a terra muda.
Nesse momento no silencioso e solitário alpendre
Beijámo-nos pela primeira vez.
Nesse momento exacto, ao longe e perto
Repicaram os sinos e soaram os búzios
Nos templos dos deuses apelando ao culto.
Um estremecimento percorreu o infinito mundo das estrelas
E os nossos olhos encheram-se de lágrimas.





Rabindranath Tagore (1861 - 1941)












(Tradução de José Agostinho Baptista in "Poesia, Rabindranath Tagore", Assírio & Alvim, 2004.)
















Radha Mesmerised by the Sound Of Krishna' Flaute,
por Yogendra Rastogi 
(1939 - 2015)