segunda-feira, 18 de julho de 2016

CANÇÃO XII


Conta-me, ó cisne, a tua história ancestral.
De que terra vens, ó cisne? Para que margem voas?
Onde terás o teu repouso, o que buscas tu?

Nesta manhã, ó cisne, desperta, ergue-te, segue-me!
Existe uma terra onde a dúvida e o arrependimento
não governam, onde o terror da Morte não mais subsiste.

Nela, os bosques em primavera florescem,
e o fragrante aroma que nasce da certeza
de Ele ser eu irrompe do vento.
Nela, o coração como abelha está profundamente 
imerso, não desejando outra alegria.




Kabir (1440 - 1518)






(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Rabindranath Tagore ("Songs of Kabir", 1915)).










sexta-feira, 15 de julho de 2016

CANÇÃO I


Oh servo, onde me buscas?
Observa! Estou junto a ti.

Não me encontrarás no templo nem na mesquita;
não estou na Caaba nem no Kailash (1),
nem nos ritos e nas cerimónias, 
ou no Yoga e na renúncia.

Se fores um verdadeiro indagador
de pronto verás, encontrar-Me-ás 
num instante de tempo.

Kabir afirma: Oh, aprendiz! 
Deus é o sopro de todos os sopros.




Kabir (1440 - 1518)


(Versão de Pedro Belo Clara a partir da versão inglesa de Rabindranath Tagore ("Songs of Kabir", 1915)).



(1) Caaba, "O Nobre Cubo", é uma construção ancestral que segue o rigor dessas formas geométricas. Encontra-se em Meca e é um objecto de veneração por parte dos devotos muçulmanos, já que alberga a "Pedra Negra", uma das relíquias mais sagradas do Islão. Por sua vez, Kailash é um monte situado no Tibete, local sagrado tanto para budistas como para hindus. O rio Ganges tem nele a sua nascente. Kabir, como se comprova, tenta aqui transcender os preceitos teóricos de ambas as religiões, com as quais privou de perto.