quinta-feira, 14 de setembro de 2023

DESAPEGO

 

Cuidar disto,
Negligenciar aquilo,
Colocar uma coisa contra a outra.
Quem está livre de tais preocupações?
Quando irão acabar?
Reflecte.
Sem paixão,
Sem apego,
Deixa tudo ir.

Meu Filho:
Quão raro e abençoado é aquele
Que observa os modos do Homem
E abdica do desejo
De prazer e conhecimento
Em troca da vida em si.

Nada dura.
Nada é real.
É tudo sofrimento,
Aflições a triplicar!
Mais desprezível que o desprezo.
Reconhece esta verdade.
Abdica.
Permanece sereno.

Quando terminarão os Homens
De colocar uma coisa contra a outra?
Abre mão de todos os opostos.
O que quer que venha, sê feliz
E assim realiza-te.

Mestres, santos, buscadores da verdade:
Todos dizem coisas diferentes.
Quem o souber
Torna-se sereno sem o fardo das emoções.

O verdadeiro mestre observa com exactidão.
A nada se apegando,
Ele vê que todas as coisas são uma só.
Ele chega ao entendimento
Da natureza das coisas,
A essência da consciência.
Ele não voltará a nascer.

Nos elementos mutáveis,
Vê apenas a sua forma pura.
Repousa na tua própria natureza.
Liberta-te.

O mundo não passa dum conjunto de falsas impressões.
Desiste delas.
Desiste da ilusão,
Desiste do mundo.
E livre vive.





Ashtavakra (? - ?)










(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Thomas Byrom in "The Heart Of Awareness - A Translation of the Ashtavakra Gita", Shambhala Dragon Editions, 2001.)












(Sem nome,
por Danny Campbell)