sexta-feira, 2 de julho de 2021

Oito haikus veranis de Yosa Buson

 
I.

(Que pena eu não ter seguido o conselho de Saigyo!¹)

não saí da minha cabana
e agora a flor da cerejeira
já é fruto


II. 

nos pêlos das lagartas
gotas de orvalho - 
noites curtas


III.

liberto pirilampos
dentro da rede mosquiteira - 
oh que alegria!


IV.

numa padiola
alguém doente é levado - 
a colheita do trigo continua


V.

(Num lugar chamado Kaya, em Tanba.)

atravessar o ribeiro no verão
com as sandálias nas mãos - 
que delícia!


VI.

concha vazia - 
o caracol
ausentou-se


VII.

as vozes e a água
entram no arrozal - 
luar de verão


VIII.

sem rede mosquiteira
toda a noite
acordado





Yosa Buson (1716 - 1784) 












(Versões e notas de Joaquim M. Palma in "Yosa Buson, Os quatros rostos do mundo - haikus", Assírio & Alvim, março de 2020.)








(1) Saigyo (séc. XII) foi um poeta muito apreciado por Bashô; tal como tinha sonhado, morreu entre as cerejeiras floridas, ao luar.












("Pássaros e Flores das Quatro Estações",
Autor desc. - finais do séc. XVI)