segunda-feira, 20 de maio de 2024

O ESPAÇO DA CONSCIÊNCIA (Parte 2)

 

És o oceano sem fim
Onde mundos como ondas
A seu ritmo se erguem e tombam.
Nada tens a ganhar,
Nada tens a perder.

Filho:
És consciência pura,
Nada menos que isso.
Tu e o mundo são um só.
Quem és tu, então, para pensar
Que o consegues agarrar
Ou dele te libertares?
Como poderias?

És o espaço limpo da consciência,
Puro e sereno,
No qual não existe nascimento,
Nem acção,
Nem um “eu”.
Ambos são um e o mesmo,
Não podes sofrer mudança ou morrer.

Estás no que quer que vejas,
Apenas tu estás.
Assim como as braceletes, as pulseiras
E as tornozeleiras dançantes
São feitas do mesmo ouro.

“Não sou isto”,
“Eu sou Ele”.
Desiste de tais distinções.
Sabe que tudo é o Ser.
Liberta-te de todo o propósito.
E sê feliz.

O mundo apenas emerge da ignorância.
Somente tu és real.
Nada há,
Nem Deus,
Separado de ti.

És consciência pura;
O mundo uma ilusão,
Nada mais.
Quando compreenderes isto em pleno,
O desejo irá desaparecer.
Encontrarás paz,
Pois, de verdade,
Nada há!

No oceano de ser
Há apenas um.
Houve e haverá
Somente um.
Já és realizado.
Como podes ser apegado ou livre?
Onde quer que vás,
Sê feliz.

Nunca aborreças a mente
Com sim ou não.
Fica quieto.
És a consciência em si.
Vive na felicidade
Da tua própria natureza,
Que é a felicidade em si.

Qual a razão de pensar?
De uma vez por todas
Abdica da meditação,
Nada guardes na tua mente.
És o Ser,
És livre.



Ashtavakra (? - ?)











(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Thomas Byrom in "The Heart Of Awareness - A Translation of the Ashtavakra Gita", Shambhala Dragon Editions, 2001.)











"Embracing Sunset Serenade",
de Olga Volna