Meu filho,
Podes ler e discutir as escrituras
O quanto quiseres:
Até que de tudo te esqueças
Nunca viverás no coração.
És sábio.
Brincas, trabalhas e meditas.
Mas ainda a tua mente deseja
Aquilo que está além de tudo,
Onde todos os desejos desvanecem.
O esforço é a raiz do sofrimento.
Quem compreende isto?
Apenas quando fores abençoado
Com a realização deste ensinamento
Encontrarás a liberdade.
Quem é mais preguiçoso que o mestre?
Até pestanejar lhe custa!
Mas somente ele é feliz,
Mais ninguém.
Ao dar atenção a uma coisa,
Descuras outras...
Quando a mente pára
De colocar coisa contra coisa
Deixa de desejar o prazer,
Deixa de ansiar por prosperidade,
Pelos deveres religiosos ou pela salvação.
Ansiando o prazer dos sentidos,
Apegas-te e sofres.
Recusando-os,
Aprendes o desapego.
Mas se nada desejares
E nada recusares
Apego e desapego não te prenderão.
Quando vives sem nada discriminar,
O desejo desponta.
Quando o desejo persiste,
Sentimentos de preferência despontam,
Sensações de “gosto” e “não gosto”.
Elas são a raiz e os ramos do mundo.
Da actividade vem o desejo,
Da renúncia vem a aversão.
Mas o homem sábio é uma criança,
Ele nunca coloca uma coisa contra a outra.
É verdade, sim,
Ele é uma criança!
Se desejas o mundo
Podes tentar renunciá-lo,
De modo a escapares à tristeza.
Em vez disto, renuncia ao desejo!
E então ficarás livre de tristeza,
O mundo não mais te incomodará.
Se desejas libertação
Mas ainda dizes “meu!”,
Se sentes que és o corpo,
Não és um homem sábio ou um buscador.
És somente um homem que sofre.
Deixa que Hari te ensine,
Ou Brahma, nascido do lótus,
Ou o próprio Shiva. (*)
A menos que de tudo te esqueças,
Nunca viverás no coração.
Quando a mente pára
De colocar coisa contra coisa
Deixa de desejar o prazer,
Deixa de ansiar por prosperidade,
Pelos deveres religiosos ou pela salvação.
Ansiando o prazer dos sentidos,
Apegas-te e sofres.
Recusando-os,
Aprendes o desapego.
Mas se nada desejares
E nada recusares
Apego e desapego não te prenderão.
Quando vives sem nada discriminar,
O desejo desponta.
Quando o desejo persiste,
Sentimentos de preferência despontam,
Sensações de “gosto” e “não gosto”.
Elas são a raiz e os ramos do mundo.
Da actividade vem o desejo,
Da renúncia vem a aversão.
Mas o homem sábio é uma criança,
Ele nunca coloca uma coisa contra a outra.
É verdade, sim,
Ele é uma criança!
Se desejas o mundo
Podes tentar renunciá-lo,
De modo a escapares à tristeza.
Em vez disto, renuncia ao desejo!
E então ficarás livre de tristeza,
O mundo não mais te incomodará.
Se desejas libertação
Mas ainda dizes “meu!”,
Se sentes que és o corpo,
Não és um homem sábio ou um buscador.
És somente um homem que sofre.
Deixa que Hari te ensine,
Ou Brahma, nascido do lótus,
Ou o próprio Shiva. (*)
A menos que de tudo te esqueças,
Nunca viverás no coração.
Ashtavakra (? - ?)
(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Thomas Byrom in "The Heart Of Awareness - A Translation of the Ashtavakra Gita", Shambhala Dragon Editions, 2001.)
(*) O autor refere a sagrada trindade do hinduísmo, a Trimurti, em que Brahma é o primeiro deus, representando, entre outras coisas, a força criadora do universo. Seguem-se Hari (ou Vishnu), aquele que sustenta o universo e, por fim, Shiva - o "destruidor" ou "transformador", aquele que extingue para que a renovação, no seio do universo, possa acontecer.
"Tree Pose",
Christian Yong