I.
Todas as flores
caíram com este vento
que soprou de noite.
O que haverá amanhã
para servir de consolo?
II.
Ver-te é só o fio
que me liga a esta vida -
se neste momento
o laço fosse cortado,
nem sequer teria pena.
III.
Mesmo quando um rio
de lágrimas atravessa
e molha este corpo,
não chega para apagar
todo o fogo do amor.
IV.
Luz crepuscular -
e o caminho em que vinhas
ter comigo e em que voltavas
também desapareceu
nas teias do tempo e dor. ¹
V.
Envelhecemos no mundo
em corrente atormentada -
o rio de hoje, que a chuva encheu,
apenas aumentará
a custo de nossas lágrimas.
VI.
A via em que vou entrar
vai de negrume em negrume -
lua sobre o monte,
por favor brilha mais tempo,
ilumina o meu caminho. ²
Izumi Shikibu (974? - 1034?)
(Selecção de Pedro Belo Clara a partir das versões de Luísa Freire in "O Japão no Feminino, Volume I, Tanka - Séculos IX e XI", Assírio & Alvim, 2007.)
(1) Retirado dum conjunto de 249 composições que Shikibu escreveu após a morte do seu amante, o príncipe Atsumichi, por quem nutria uma grande afeição.
(2) É tido como sendo o último tanka de Shikibu, escrito em pleno leito de morte.
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