I.
adormecido
no altar doméstico¹
o gato ladrão
II.
folhas caindo -
o gatinho rodopia
tentando apanhá-las
III.
a sua cara tão inocente -
a gata com cio
regressa a casa
IV.
dez gatinhos
dez cores
diferentes
V.
gatos com cio
separados pela parede -
amantes que não se tocam
VI.
o guizo do gato
por entre as peónias
ora aqui ora ali
VII.
arranhando a janela e chorando
o gato banido -
noite gelada
VIII.
pequeno tapete de palha -
o gato chega com um casaco
de flocos de neve
Kobayashi Issa (1763 - 1827)
(Tradução de Joaquim M. Palma in "Kobayashi Issa: Os animais - haikus", Assírio & Alvim, 2019.)
(1) Era tradição cada casa possuir um altar privado, fosse de índole xintoísta ou, como o poeta, budista. Geralmente, eram aí feitas oferendas a um certo deus ou a Buda, e também se queimava incenso. Era de igual modo comum existir um que honrasse e celebrasse a memória dos antepassados familiares. Por aquilo que lemos no haiku, depreende-se que o gato tenha comido a oferenda feita e, após o repasto, decidido tirar uma boa soneca em pleno local do crime.
"Hotaruso",
de Fumika Koda (1986 - )