terça-feira, 16 de novembro de 2021

Oito haikus outonais de Bashô (Parte II)

 
I.

os nossos corações estão em paz
na pequena sala de chá - 
o outono ronda lá fora


II.

neblina rente ao chão -
debaixo do luar
uma planície de nuvens


III.

campos de algodão - 
flores de luar
por todo o lado


IV. 

(Ao saber que a monja Jutei¹ tinha falecido.)

nesta festa das almas²
também tu
vais estar presente


V. 

roncos de veado
dentro da noite - 
a tristeza


VI.

de repente
uma nuvem encobrindo o sol - 
aves migratórias


VII.

(Pensamento...)

pela estrada
onde ninguém passa
parte o outono


VIII.

outono - 
porque será que envelhecer
é como um pássaro dentro das nuvens?






Matsuo Bashô (1644 - 1694)











(Tradução de Joaquim M. Palma, in "Matsuo Bashô - O Eremita Viajante (Haikus - Obra Completa)", Assírio & Alvim, 2016.)









(1) Especula-se que Bashô tenha tido um relacionamento amoroso com esta mulher, uma monja xintoísta, mas de modo geral aceita-se a ideia como mera suposição. Ademais, existem indícios, alguns deixados pelo punho do próprio Bashô, que ligam o poeta a um comportamento homossexual. Em todo o caso, isto poder-se-á afirmar: Bashô conheceu Jutei e por ela nutria um certo carinho.


(2) O Obon é celebrado todos os anos por volta do dia 15 de agosto (depende das regiões do Japão), sendo um festival muito antigo, de origens budistas, que homenageia os antepassados já falecidos. É, assim, costume as famílias deslocarem-se aos cemitérios ou aos lugares de repouso dos seus entes queridos para limpar os túmulos e honrar a sua memória. Dura três dias, esta festividade que inclui sempre uma dança: o Bon Odori.











"Ervas Outonais ao Luar",
de Shibata Zeshin 
(1807 - 1891)




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