terça-feira, 20 de novembro de 2018

Três poemas místicos de Lao Tsé


I.

O Tao¹ a que se dá um nome
não é o Tao eterno.
O não-nome é o seu verdadeiro nome.

O inominável é a origem do céu e da terra.
O nomear é a mãe de todos os seres.

Se nos esvaziarmos do desejo, vemos o mistério.
Se desejamos, vemos a manifestação das coisas.

Estas duas verdades emergem de uma única origem,
e as duas são um mistério.

Quando o mistério se mistura com o mistério,
abre-se a porta para o desconhecido.


II.

O Tao é uma taça vazia;
quando se usa, não se enche.
Parece não ter fundo.
É como a fonte de todas as coisas.

Ele suaviza as arestas,
desata todos os nós,
atenua o brilho intenso,
reúne toda a poeira do mundo.

É um abismo escondido
mas sempre presente.

De quem é filho? Não sei.
Parece estar muito antes dos deuses.


III.

Trinta raios convergem no eixo,
mas é o vazio que há no centro
que dá utilidade à roda.

O barro é moldado para fazer vasos,
mas é o vazio que há no seu interior
que lhe dá utilidade.

Colocam-se portas e janelas nas paredes,
mas o espaço interior vazio é que é útil.

O ser torna acessível,
mas é o não-ser que é útil.





Lao Tsé (séc. VI a.C. - ?)








(Tradução de Joaquim Palma, in "Tao Te Ching - O Livro do Caminho e da Sabedoria", Editorial Presença, Julho de 2010).









(1) Tao é a palavra chinesa para "caminho". No contexto deste poema, assume obviamente conotações mais filosóficas e, se quisermos, até místicas.










(Escultura em pedra de Lao Tsé no sopé do monte Qingyuan, a norte de Quanzhou, na China)




2 comentários:

  1. Respostas
    1. Apraz-me sabê-lo, meu amigo. Devo confessar que também aprecio muito Lao Tsé e a sua visão do mundo, de nós e das coisas.
      Um abraço! Volte sempre. Muito obrigado.

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