Era um pedinte que levava já muitos anos a mendigar e que se habituara de tal modo a viver da mendicidade que não queria voltar a trabalhar, apesar de haver gente que, de vez em quando, lhe oferecia trabalho. Ao longo do dia, vagueava pelas ruas a pedir esmola e, certo dia, inesperadamente, encontrou-se com um amigo de infância. Puseram-se ambos a passear e a contar as suas coisas. O amigo que se encontrara com o mendigo afirmou:
- A verdade é que não me posso queixar. Correu-me tudo muito bem ao longo destes anos. A minha vida foi fácil e o destino mostrou-se generoso.
- A mim, correu-me francamente mal, como vês - replicou o pedinte. - Há anos que ando a mendigar de um lado para o outro, suportando o frio e os maus-tratos de muitas pessoas. É muito dura a vida de um mendigo.
Foram passeando e conversando. Eram tantas as queixas do mendigo que o amigo lhe declarou:
- Tinha um grande carinho por ti quando éramos pequenos. Vou, por isso, fazer-te uma confidência. Tenho poderes sobrenaturais. Não fiques surpreendido; é verdade. E acho que te poderei ajudar a melhorar a tua miserável existência.
Tocou, então, com o indicador num tijolo e transformou-o num lingote de ouro.
- Para ti - disse, entregando-o com carinho ao mendigo. - Isto aliviará muitas das tuas penas. Já não terás de passar fome, frio e maus-tratos.
O mendigo respondeu:
- Mas a vida é tão longa e dá tantas voltas! Tão longa, tão longa!
Passaram junto a uma escultura em pedra de um leão. O homem com poderes entendeu o indicador, tocou no leão e converteu-o em ouro.
- Agora, nada te faltará - disse ele ao mendigo. - Contas com uma verdadeira fortuna.
- Mas a vida é tão longa, tão imprevisível... - argumentou vorazmente o mendigo. - É tão longa que aquilo que julgamos ser suficiente acaba por não o ser.
- Bem, que mais posso eu fazer por ti?
E o mendigo respondeu:
- Dá-me o teu dedo!
Tradicional (do Tibete)
(Conto colectado por Ramiro Calle e editado em "Contos Espirituais do Tibete", Albatroz, 2021.)
(Conto colectado por Ramiro Calle e editado em "Contos Espirituais do Tibete", Albatroz, 2021.)
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