quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A CANÇÃO DOS FANTOCHES


Em madeira são esculpidos.
Com figura de velhos,
movem-se por meio de fios.

Têm a pele cheia de rugas
e os cabelos são brancos.
Parecem mesmo 
verdadeiros velhos.

Mas, acabada a comédia,
todos caem e ficam inertes.

Lembram os homens:
atravessando esta vida
como num sonho.


Tang Xuanzong (685 - 762) (*)




(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução de B. Videira Pires)




(*) Nascido Li Longji, Xuanzong foi provavelmente o imperador mais famoso de toda a dinastia Tang, tendo o reinado mais longo (quarenta e três anos) e também, sem motivo que o questione, o mais conturbado. Afinal, testemunharia de perto a rebelião do general An Lushan, acto que viria a imergir o país num caos completo - do qual resultaram cerca de doze milhões (!) de mortes ao longo de sete anos.
Apesar dos desejos de poder do seu general, há quem atribua ao próprio imperador culpa pelo trágico sucedido. Afinal, graças à sua confiança cega no mesmo, e noutros indivíduos de personalidade dúbia, o império sofreria grandes danos. Uma surpresa, tamanha falha, dado que nos primeiros anos de reinado se revelara um governante astuto e diligente. 
É curioso constatar o modo como este poema compara os fantoches à existência humana. A razão que a sustenta poderá ser mais pessoal do que em primeira análise se concluirá. 
Na tentativa de garantir a máxima estabilidade política durante o período do conflito, o imperador Xuanzong procedeu ao perdão de diversos rebeldes, munindo-os de guarnições numerosas na esperança de que pudessem manter a estabilidade política e económica do nordeste do país. O acto, infelizmente, teve efeitos reversivos, deixando o imperador à mercê dos caprichos de tais figuras. O sentimento anotado não difere muito, como se vê, da condição conhecida por esses engraçados brinquedos, os fantoches.  
Xuanzong, apesar de tudo, era um verdadeiro amante das artes - e da poesia, em particular.













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