quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O tempo foge, a cascata flui


O tempo foge, a cascata flui.
O carro dos quatro corcéis desaparece.
O destino é sagaz.
Mas o que ele não consegue
é restituir-me a vida quando morto eu for.

Já vivi bastante.
Caem-me os dentes, caem-me os cabelos.
Sou como uma maçã murcha no Inverno.
É esta a lei dos homens.
De que serve revoltar-me?


Mao Heng (séc. III ? ) (*)



(Tradução de António Ramos Rosa).





(*) Sobre este poeta pouco se sabe, desde as suas exactas datas de vida como muito daquilo que empreendeu ao longo da mesma. No entanto, foi o fundador de uma escola poética denominada "Mao Shi", que durante a dinastia Han atingiu uma considerável relevância. O seu papel como anotador do "Livro das Odes" (Shi Jing), considerado um dos "Cinco Clássicos" da literatura chinesa, merece igual destaque.
Pela leitura do poema apresentado, podemos compreender a inclinação deste obscuro escolástico para temas como a impermanência dos elementos mundanos e a efemeridade da vida, factos existenciais que lhe alimentavam uma completa aceitação dos seus efeitos. Pelo que se demonstra, certas influências do pensamento Taoísta em sua poesia não serão de descartar. 










(reprodução da primeira ode do Shi Jing, transcrita pela própria mão do Imperador Qianlong (1711 - 1799))




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