sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Três poemas de Han Shan (Parte II)


I. Barco à deriva


Uma vez na Montanha Fria,
todos os problemas cessam - 
não mais a mente enredada está.

Ociosamente rabisco poemas
no topo dum penhasco rochoso,
apanhando tudo o que me surge
como barco à deriva.




II. A predição dum lar


Num emaranhado de penhascos
escolhi um lugar - 
vestígios de pássaros por todo o lado, 
mas nenhum indício humano.

O que está para além do pátio?
Alvas nuvens colando-se a vagas rochas.

Já aqui vivo por longos anos.
Uma e outra vez, o inverno 
e a primavera passaram por mim.

Perguntem às famílias com carros
e talheres de prata
qual o propósito de tanto ruído
e riqueza.



III. Trinta longos anos


Vivi na Montanha Fria
por trinta longos anos.

Ontem, reuni amigos e familiares.
Mais de metade já havia partido 
para as Nascentes Amarelas. (1) 

Lentamente, consumo-me 
como fogo derretendo a vela,
fluindo eternamente
como rio que passa.

É agora manhã,
enfrento a minha solitária sombra.
De súbito, o olhar 
de lágrimas turva-se.




(Tradução, arranjo e adaptação da versão inglesa de Gary Snyder por Pedro Belo Clara).







(1) Usou-se a expressão "Nascentes Amarelas" directamente, e literalmente, traduzida da sua versão inglesa: "Yellow Springs". No original, Huangquan, o poeta refere-se ao "Reino dos Mortos", o equivalente ao Yomi no Japão, referindo-se assim Han Shan às suas amizades e membros de família entretanto falecidos. 









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