terça-feira, 12 de janeiro de 2016

CANÇÃO DA BELA DE LUOYANG


Habita aqui em frente a bela de Luoyang,
um rosto puro de menina de quinze anos.
O marido usa arreios de jade no cavalo baio,
os criados servem pedacinhos de carpa em pratos de ouro.
No seu lar, pavilhões vermelhos, antecâmaras pintadas,
pessegueiros rosa, salgueiros verdes debruçando-se sobre 
[os telhados.
Ao sair, sob um véu de seda, deixa o pavilhão dos sete 
[perfumes;
ao regressar, escondem-na leques preciosos, cortinados 
[com nove flores.
O marido rico, jovem como a primavera,
ultrapassa Li Jun em esplendor e fausto.
Apaixonado pela menina de Jade Verde, ensina-a a dançar;
feliz, oferece aos amigos pequenas árvores de coral.
Nasce o dia, extinguem-se as nove velas do candelabro;
as chamas esvoaçam como pétalas de flor,
não cessaram ainda jogos e canções.
Dia e noite, a gente importante da cidade
vem de visita, em reverência como às beldades de outrora.
Quem pensa na menina de Yue, de pele de jade,
pobre, ignorada, lavando roupa nas águas do rio?



Wang Wei (701 - 761) (*)




(Tradução de António Graça de Abreu in "Quinhentos Poemas Chineses" - Nova Vega, 2014)



(*) Nasceu em Qixian, província de Shanxi, aquele que foi um dos maiores poetas da dinastia Tang - e, sem grande exagero, de toda a poesia chinesa.  
Aos dezoito anos já obtivera aprovação nos criteriosos exames imperiais, que davam à época acesso ao mandarinato. Durante quase toda a sua vida ocuparia, assim, uma posição de honroso serviço para com a corte imperial. Em 758, inclusive, seria nomeado "Chanceler da China". O acumular de toda essa experiência terá certamente aguçado o seu olhar e depurado a sua percepção de homem e poeta, como comprova o poema seleccionado - retrato que não expurga, apesar do seu firme e nítido traço, a crítica de cariz social. 
Além da poesia e das ocupações de homem de estado, notabilizou-se ainda na arte da caligrafia e pintura - apesar de nenhuma das suas criações na área tenham sobrevivido até hoje. Não obstante, revelou-se um dedicado amante da natureza e, a par de Han Shan, foi um dos primeiros poetas a abraçar e a incorporar em seus trabalhos os princípios do budismo zen (houve quem lhe chamasse "o poeta de Buda"). Ainda que o poema de hoje não seja prova viva disso mesmo, fica no ar a promessa de que numa outra ocasião esses outros serão de muito bom grado partilhados com os nossos amáveis leitores. 












Sem comentários:

Enviar um comentário