terça-feira, 2 de maio de 2017

CANÇÃO XIV


O rio e as suas ondas
são um só movimento.
Onde está a diferença
entre o rio e as suas ondas?

Quando a onda se ergue,
é água que se levanta;
quando a onda tomba,
é água que cai.

Amigo: onde reside
a diferença?

Só porque foi nomeada onda
deverá não mais
ser considerada água?

Dentro do Brahma (*) supremo,
os mundos contam-se
como as contas dum rosário.

Observa esse rosário
com olhos de sábio.





Kabir (1440 - 1518)




(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Rabindranath Tagore - "Songs of Kabir", 1915).







(*) Brahma é o primeiro deus da sagrada trindade do hinduísmo, a Trimurti, seguido de Vishnu e Shiva. Originalmente dotado de cinco cabeças e oito braços, representa a força criadora do Universo. À semelhança da noção católica de "Deus", Brahma é visto como o "Criador" por excelência, senhor de todo o conhecimento. Uma das possíveis traduções do seu nome é a de "Realidade Última", embora sobre este tema as opiniões sejam bastante divergentes.
Iconograficamente é representado por quatro cabeças, uma por cada Veda (os livros sagrados do hinduísmo), e em quatro dos seus oito braços ampara um rosário (note-se a referência no poema) simbolizando o tempo, um recipiente com água, uma espécie de colher e os sagrados textos dos Vedas.
Apesar de num passado remoto ter gozado de uma enorme popularidade, com o dobrar dos séculos foi perdendo-a para as outras divindades da mesma trindade. Restam actualmente poucos templos em sua honra. O mais emblemático situa-se em Pushkar.








(Fonte: Smithsonian Ocean Portal)



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