sexta-feira, 14 de setembro de 2018

PROCURA O BAIRRO DA ALEGRIA


O Sultão Valad, filho do nosso mestre, contou: "Um dia, disse a meu pai: 'Os amigos dizem que sempre que te não vêem sentem dor e a sua alegria interior desaparece'. 
O meu pai respondeu: 'Aquele que se não sentir alegre na minha ausência não me terá conhecido de todo; aquele que realmente me conhece sente-se feliz sem mim - esse será inundado pelo que sou, pelo pensamento de mim com o meu pensamento'. 
E acrescentou: 'Sempre que, meu filho, te encontrares num estado de serenidade mística, sabe que esse estado significa eu em ti' ".
O Sultão concluiu: "É por isto que o meu pai costumava dizer: 'Quando me procurares, procura no Bairro da Alegria. / Nós somos os habitantes do Mundo da Felicidade' ".




(Shams ud-Din Ahmad) Aflaki em Manāqib ul-Ārifīn, uma biografia de Rumi (Séc. XIV).








(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Andrew Harvey in "Teachings of Rumi" - Shambhala Pub., 1999)



















6 comentários:

  1. E é aquilo que eu penso: apenas quando nos despejarmos do "nós" físico, é possível entrarmos no "EU" alma e nela me ver na plenitude do infinito onde o "SER" se basta a si próprio, sem contingência de nada e de ninguém.
    Comentário de Pedro Marques

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    1. Sim, meu amigo, em suma é isso.
      Embora o estado em causa, que corresponde ao cristão "Reino de Deus", não seja um lugar físico nem algo que se alcança apenas após a morte física, mas algo possível de ser realizado aqui e agora. Aliás, daí a célere expressão: viver na Terra como no Céu.
      Um estado de consciência, portanto, elevado e desperto, aquele que se identifica nos ditos iluminados, os que transcenderam a ilusão mundana. Buda, Jesus e o próprio Rumi terão sido alguns deles. Note-se bem como ele diz a seu filho que num estado de serenidade mística ele estará nele, ou seja, o pai no filho, sem que haja, finalmente, qualquer fronteira. O oceano está contido na gota de água, o fruto está contido na semente. Tudo é uma só coisa. Também Jesus o disse: levanta uma pedra e eu estarei lá. As formas são diversas, o que as anima é uma só coisa. Daí achar belíssimo este dizer, cujo autor infelizmente me escapa: Tudo não passa de um imenso diálogo divino. Quando se realiza a verdade, como não sorrir, celebrar? Pois é-se o Amor, a Paz, a Felicidade. Não só habitamos o falado Mundo da Felicidade como somos ela mesma. É essa, a meu ver, a maravilha das maravilhas.
      Meu amigo, agradeço a sua visita.
      Um forte abraço!

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  2. Linda a sua resposta poeta Pedro Belo Clara, não é um teólogo, mas é teologal sua resposta. Por isso gosto de frequentar tudo que nos apresenta em literatura. Suas poesias largam até perfumes, isso é reino dos céus e felicidade eterna...

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    1. Só tenho a agradecer as suas palavras, cara amiga. Mesmo que sinta ser imerecida a lisonja.
      Volte sempre, pois sempre é um gosto recebê-la.
      Beijos.

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  3. APRECIAÇÃO DE PEDRO MARQUES
    Meu bom amigo,
    li e analisei a sua resposta, que, no essência, está em sintonia com o que tentei exprimir em palavras.Se conseguirmos entrar no Espírito que habita em nós, conseguimos transcender a nossa finitude física. Estaremos na tal serenidade mística.
    Grato pela sua resposta!

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  4. Bem sei, meu amigo, também senti o mesmo quando li a sua apreciação.
    Faço sempre questão de responder aos comentários que aqui deixam, é o mínimo que poderei fazer! Além disso, sempre se trocam dois dedos de boa conversa...
    Abraço!

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