I. A brisa no alaúde
Abandono o alaúde no banquinho
e quedo-me sereno, a pensar.
Não é preciso eu dedilhar as cordas,
acaricia-as a brisa, tocam sozinhas.
II. Tranquilidade
O homem feliz vê voar os dias,
o homem triste arrasta os anos, como o caracol.
Quem ignora vicissitudes, alegrias
olha, por igual, o viajar da lua e do sol.
III. Uma nuvem no alto da montanha
Uma nuvem branca no alto da montanha,
intacta face ao avançar da manhã.
O trigo ressequido no campo
perde o viço e o verde.
O homem cresce e murcha,
cumpre e concretiza o quê?
Não pode transformar-se em chuva
Não pode transformar-se em chuva
e seguir o vento Leste.
IV. Subindo ao terraço de Lingying, olhando para norte
Subindo à montanha,
entendo a pequenez dos domínios do homem,
olhando na distância,
entendo o vazio das coisas terrenas.
Volto a cabeça, regresso à corte e ao mercado,
como um bago de arroz caindo no grande celeiro.
V. Primavera em Luoyang
Ao olhar os arrozais, a Primavera em Luoyang é eterna.
Regresso, vinte anos após a minha última visita.
Uma coisa não reencontrei, a minha juventude.
Tudo o mais permanece inalterado.
VI. Noite solitária no início do Outono
Ondulam folhas finas por detrás do poço,
lavadeiras batem roupa, o Outono começa a cantar.
Descubro um recanto sob os beirais, adormeço solitário.
Ao acordar tenho o leito inundado de luar.
(Traduções de António Graça de Abreu in "Poemas de Bai Juyi", Instituto Cultural de Macau, 1991.)
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