Farrapos de névoa cobrem os campos e as colinas. Os dias são longos, comparados com os do inverno, e o vento menos cortante. Quando sobrevem a primavera, as águas nos vales, assim como as cotovias no céu azul, os pássaros nos bosques e as rãs - essa tribo solene e estridente - enchem o ar de cantos joviais. O mais celebrado é o do «uguisu», um pequeno pássaro do tamanho de um pardal, castanho, com manchas brancas no peito. Aparece quase sempre associado às flores de ameixoeira, da mesma forma que os pardais aos bambus.
Além das ameixoeiras, florescem também os pessegueiros, as cerejeiras e as japoneiras. As folhas destas são graciosas e os ramos adequados para os arranjos florais. As flores de cerejeira, com o seu leque de sugestões poéticas, são a flor emblemática desta estação e - mais do que isso - sinónimos do próprio Japão.
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I.
Chuva de flores de ameixoeira
Um corvo procura em vão
o seu ninho
II.
Debaixo de uma cerejeira
tudo é servido
decorado com flores
III.
Lua cheia:
para repousar os olhos
uma nuvem de tempos a tempos
IV.
Não esqueças nunca
o gosto solitário
do orvalho
Matsuo Bashô (1644 - 1694)
(Versões de Jorge Sousa Braga in "O Gosto Solitário do Orvalho (seguido de "O Caminho Estreito"), Assírio & Alvim, 2003.)
de Tokuriki Tomikichiro.
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