segunda-feira, 22 de maio de 2023

SABEDORIA

 
Conheces o Ser,
Por sua natureza uno
E sem fim.
Conheces o Ser,
E permaneces sereno.
Como poderás ainda desejar riquezas?
 
Quando em ignorância
Vês prata numa madressilva,
A cobiça desponta.
Da ignorância do Ser
O desejo desperta
Para o mundo onde os sentidos se agitam.
 
Conhecendo-te como Aquilo
Onde mundos erguem-se e desaparecem,
Quais ondas no oceano,
Porque te agitas tão miseravelmente?
 
Não escutaste ainda?
És consciência pura,
A tua beleza não tem fim!
Porque deixas a luxúria enganar-te?
 
O homem sábio
Sabe que se encontra em todas as coisas
E todas as coisas nele mesmo se encontram.
Mas, que estranho!,
Ele ainda diz, “Isto é meu.”
 
Determinado a ser livre,
Permanece na unidade,
Para além de todas as coisas.
Mas, que estranho!,
Entregando-se à paixão, ele fraqueja,
E a luxúria assim o domina.
 
Enfraquecido pela idade,
Ainda é tomado pelo desejo,
Sabendo, sem dúvida,
Que a luxúria é inimiga da consciência.
Que estranho, de facto!
 
Anseia ser livre…
Não tem qualquer interesse por este mundo
Nem pelo próximo,
E sabe aquilo que passa
E aquilo que permanece.
Mesmo assim, que estranho!,
Ainda teme a liberdade.
 
Mas aquele que é realmente sábio
Sempre vê o Ser absoluto.
Celebrando, não se deleita;
Rejeitando, não se enfurece.
 
Puro de coração,
Observa as suas próprias acções
Como se fossem doutra pessoa.
Como poderá o elogio ou a culpa perturbá-lo?
 
Com visão limpa e firme,
Observa como o mundo é uma miragem
E assim não mais se questiona sobre ele.
Como poderá temer a chegada da morte?
 
Puro de coração,
Nada deseja,
Mesmo em desespero.
Satisfaz-se
No conhecimento do Ser.
A quem poderei compará-lo?
 
Com visão limpa e firme,
Ele sabe que tudo o que vê
Nada é, por sua natureza.
Como poderá preferir uma coisa a outra?
 
Ele está além de toda a dualidade.
Livre do desejo,
Varreu de sua mente
Todo o anseio pelo mundo.
Venha o que vier,
Alegria ou pesar,
Nada o moverá.





Ashtavakra (? - ?)












(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Thomas Byrom in "The Heart Of Awareness - A Translation of the Ashtavakra Gita", Shambhala Dragon Editions, 2001.)









 


"Pearl Of Wisdom"
Jean Filson



2 comentários:

  1. Respostas
    1. A substância destes poemas tem o condão de nos deixar assim como descreveu, sem dúvida... Impressionam pela antiguidade e pela significância, embora aquilo que tentam transmitir esteja além do tempo.
      Muito grato pela sua visita e simpático comentário.
      Até breve, cara amiga.

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