sexta-feira, 16 de março de 2018

DESPERTAR MADRUGADOR NUMA MANHÃ DE PRIMAVERA (*)


A primeira luz do sol nascente
ilumina as traves da minha casa;
o primeiro bater de portas que se abrem
ecoa como o som de um tambor.

O cão dorme enrolado sobre si mesmo
na soleira de pedra, pois a terra
está encharcada em orvalho;
os pássaros aproximam-se da janela
e tagarelam sobre a beleza do dia.

Graças aos efeitos prolongados do vinho,
tenho a cabeça ainda pesada;
com a recente arrumação das roupas invernais,
o meu corpo ficou mais magro.

Desperto com o coração vazio
e a mente na sua totalidade extinta.
Ultimamente, com o passar das noites,
não tenho tido sonhos acerca do lar.




Bai Juyi (772 - 846)









(Versão de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa de Arthur Waley.)







(*) Este poema, onde se identificam laivos das influências do pensamento budista e taoísta sobre o autor, é apenas uma parte de um outro que Bai Juyi escreveu no ano de 825, enquanto governador de Suzhou - uma das maiores cidades da província de Jiangsu, no leste da China, uma espécie de "Veneza do Oriente". 
Apesar de não o admitir abertamente, sobressai a difícil adaptação do poeta ao lugar, comprovada pelas saudades que sentia da sua terra natal - aparentemente ultrapassadas na altura da composição deste poema.









(Ponte em Suzhou, China)




Sem comentários:

Enviar um comentário