terça-feira, 17 de dezembro de 2019

REGRESSO AO CAMPO (Primeiro de cinco poemas)


Jovem, e já o mundo me desiludia tanto
pois o que eu amava mesmo eram as montanhas

porém tonto, me deixei apanhar pelas armadilhas do mundo
e treze anos passaram assim num abrir e fechar de olhos

mas o pássaro em cativeiro tem saudades da floresta
o peixe no aquário anseia pelas águas revoltas de outrora

eu limpo as terras do sul entretendo a minha rudeza,
levando uma vida simples, pois regressei à minha terra

o lugar onde moro não vai além de uns casais
onde tenho uma casita com aposentos vários

colmos e salgueiros dão sombra ao alpendre das traseiras
pessegueiros e pereiras decoram o jardim da frente

lá ao longe, o casario de uma aldeia perdida e vaga
o fumo das chaminés subindo para o céu

cães ladram em becos distantes e baldios
galos cantam trepando sobre arbustos

no coração da casa nem uma nódoa
não cabem tumultos onde o silêncio mobila os quartos

tanto tempo estive em cativeiro
que alegria por voltar ao campo.




Tao Yuanming (365 - 427)










(Versão de Manuel Afonso Costa in "Poesia e Prosa - Tao Yuanming", Assírio & Alvim, outubro de 2019.)















(Tao Yuanming,
Cai Ju Dong Li Xia.)


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