Jovem, e já o mundo me desiludia tanto
pois o que eu amava mesmo eram as montanhas
porém tonto, me deixei apanhar pelas armadilhas do mundo
e treze anos passaram assim num abrir e fechar de olhos
mas o pássaro em cativeiro tem saudades da floresta
o peixe no aquário anseia pelas águas revoltas de outrora
eu limpo as terras do sul entretendo a minha rudeza,
levando uma vida simples, pois regressei à minha terra
o lugar onde moro não vai além de uns casais
onde tenho uma casita com aposentos vários
colmos e salgueiros dão sombra ao alpendre das traseiras
pessegueiros e pereiras decoram o jardim da frente
lá ao longe, o casario de uma aldeia perdida e vaga
o fumo das chaminés subindo para o céu
cães ladram em becos distantes e baldios
galos cantam trepando sobre arbustos
no coração da casa nem uma nódoa
não cabem tumultos onde o silêncio mobila os quartos
tanto tempo estive em cativeiro
que alegria por voltar ao campo.
Tao Yuanming (365 - 427)
(Versão de Manuel Afonso Costa in "Poesia e Prosa - Tao Yuanming", Assírio & Alvim, outubro de 2019.)
(Tao Yuanming,
Cai Ju Dong Li Xia.)
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