quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Três poemas de Bai Juyi


I. A aldeia de Chu-Chen

Em Hsu-Chu, distrito de Ku Feng,
há uma pequena aldeia chamada Chu-Chen.
Está muito afastada da grande cidade,
entre campos de cânhamo,
à sombra de amoreiras.
Ali os teares tilintam alegres,
rangem pelas ruelas
as carroças puxadas por burros.
As jovens vão buscar água ao poço,
as crianças vão colher a lenha.
Os habitantes de Chu-Chen são pobres,
e é raro
tratarem com o governo.
Enquanto vivos, são
os habitantes da aldeia de Chu-Chen.
Quando mortos, tornam-se
no pó da aldeia de Chu-Chen.


II. O velho carvoeiro

No monte do sul, o velho carvoeiro
serra a madeira, faz carvão.
O rosto cor de fogo, coberto de fuligem,
cinzentas as têmporas, negras as mãos.
Ganha tão pouco dinheiro, e para quê?
Roupa para o corpo, comida para a boca,
mas tão pobre, coberto de andrajos...
Tem frio e deseja o frio, por causa do negócio,
esta noite um palmo de neve sobre a cidade.
De madrugada conduz a carroça, rasgando o gelo,
ao meio-dia, o boi fatigado, o homem com fome,
na Porta Sul descansam ambos na lama gelada.
Ah, quem são esses fogosos cavaleiros?
Um oficial vestido de amarelo, um rapaz de branco,
na mão um documento "Por ordem imperial".
Puxam o boi, levam a carroça para norte.
Uma carrada, trinta arrobas de carvão,
confiscadas pelos comissários do Palácio.
De nada servem protestos e lamentos.
Um pedaço de tecido em gaze,
umas tiras de seda florida,
tudo atado nos cornos do boi.
Eis a paga do labor do carvoeiro.


III. Lamento pela morte das peónias

Entristeço-me
pelas peónias vermelhas
no sopé da escadaria. 

Cheguei tarde demais.
Apenas dois débeis
exemplares resistem ainda.

Os ventos da manhã
que decerto virá
remetê-los-ão ao esquecimento.

Esta noite,
direccionando a candeia
desfruto dos derradeiros
laivos de vermelho esmaecido.



Bai Juyi (772 - 846) 






(Os poemas I e II são, respectivamente, traduções de António Ramos Rosa e de António Graça de Abreu ("Quinhentos Poemas Chineses", Nova Vega, 2014). O poema IIIº é uma tradução e adaptação da versão inglesa de Dongbo por Pedro Belo Clara).








(Pormenor de Luoyang, China, e suas peónias, cujo festival ainda hoje se realiza)






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