segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

CÂNTICO À PREGUIÇA


Poderia ter um emprego, 
mas sou demasiado preguiçoso para me candidatar.
Possuo um terreno,
mas sou demasiado preguiçoso para preparar o seu cultivo.

Tenho o telhado esburacado,
e preguiça em repará-lo.
Tenho as roupas em farrapos,
e indolência para as compor.
Tenho um cântaro de vinho,
e preguiça para o abrir.

Mais vale então que permaneça vazio!

Tenho a minha cítara,
mas estou sonolento o bastante
para a não tocar.
Mais valia então que cordas não tivesse!

A minha família resmunga: «Não há já mais arroz».
Também tenho fome... 
Mas estou demasiado letárgico
para cozinhar.

Os amigos enviam-me cartas,
mas não possuo energia para as abrir.

Ouvi contar que o tio Ji 
teve uma vida de grande preguiça,
mas ele tocava a sua cítara
e por ofício foi ferreiro.

Comparado comigo,
bem se vê como ele 
nunca dominou a arte da preguiça!




Bai Juyi (772 - 846)


(Versão adaptada de Pedro Belo Clara a partir da tradução inglesa elaborada por Dongbo.)








(Bai Juyi e a sua adorável preguiça em acção) 



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